Do Carnaval ao auxílio, as questões presentes no 4º dia da Fervo

por Camilo Rocha

Rádio: Dublab Brasil

O quarto dia da conferência se iniciou com os sets da rádio online Dublab Brasil. Sons eletrônicos de várias matizes embalaram os ouvidos do público. A Dublab surgiu em Los Angeles em 1999 e hoje conta com filiais no Brasil, Alemanha, Espanha e Japão.

Fervo TV: Novíssimo Edgar entrevista Jup do Bairro

No seu quarto e último talk show na Fervo, Novíssimo Edgar conversou com uma das revelações musicais dos últimos anos, a multiartista Jup do Bairro, aclamada por trabalhos como o EP “Corpo sem Juízo”.

Jup falou sobre o início da sua trajetória, quando um vídeo que postou na internet levou a um convite para se apresentar na ocupação cultural Ouvidor 63, no centro de São Paulo. 

A conversa avançou para o terreno da representatividade e as questões associadas a esse tema. “Eu tenho entendido cada vez mais as contradições que meu corpo carrega”, afirmou a artista. “O capitalismo quer nos pegar mesmo do avesso e falar ‘ow, vem cá, a sua pauta é a demanda da vez”.

Jup do Bairro declarou que existem aspectos diferentes sobre o lugar que ocupa, de mulher trans negra gorda. Para a artista, sua figura serve tanto de inspiração como também faz com que pessoas se acomodem, pois acreditam que o perfil já está devidamente representado por ela. 

Palestra: Direitos Autorais: remix, samples, licenciamento e sincronização

Especialista em direitos autorais e tecnologia, Guta Braga explicou conceitos fundamentais para entender os direitos autorais, desde os tipos de direitos que cada obra possui a aspectos técnicos do processo de licenciamento para diferentes tipos de uso (sample, citação, remix etc).

“Música é um patrimônio. É como uma casa, um carro. Você tem que ter muito carinho ao negociar seu patrimônio, sua música”, declarou a especialista. 

Braga apresentou a faixa “AmarElo”, de Emicida, com sample de Belchior, como exemplo de utilização de uma obra e de uma gravação dentro de outra. “Dependendo da negociação, comumente o autor sampleado também vai ser autor da nova música”, explicou. 

Apesar de ser uma prática disseminada há décadas, Braga afirmou que “a indústria ainda não entendeu o poder do rap e do hip hop, e a utilização de músicas antigas”.

A especialista também comentou o contexto das lives, que bombaram com a pandemia. “A gente teve lives de artistas sertanejos que renderam muito dinheiro e só os escritórios [artísticos] recebiam e os autores, não. Daí o Ecad [órgão que arrecada direitos autorais] comunicou a necessidade de se pagar os autores”, disse.

Mesa: O que será do Carnaval quando houver Carnaval?

A discussão sobre as perspectivas do Carnaval 2022 reuniu representantes de blocos importantes de São Paulo: Guilherme Varella (Saia de Chita), Alessa (Bloco Ritaleena), Dandara Pagu (Vaca Profana). A mediação ficou a cargo de Thiago França, que encabeça o Charanga do França.

Os convidados discorreram sobre as dificuldades da realização de um Carnaval normal no ano que vem, mesmo um Carnaval. Para Alessa, “quem fala que vai ter carnaval o ano que vem, está sendo leviano. Se o folião não tiver afim, se os blocos não tiverem condições, a gente não vai ter o Carnaval que a gente conhece.”

Dandara sublinhou a impossibilidade de um Carnaval cheio de restrições. “A graça do Carnaval é ser popular, é você estar se agarrando e lambendo uma pessoa que nunca viu na vida”, comentou. 

Varella ressaltou um aspecto mais de fundo da filosofia da festa: a celebração da vida. Para o fundador do Saia de Chita, se o Carnaval 2022 representar uma ameaça sanitária, a situação “exige que a gente tire o time de campo”.

Palestra: A internet deu ruim: espaços culturais, algoritmos e o futuro

O jornalista Thiago Carrapatoso, que já passou por organizações como o Movimento Baixo Centro e empresas como o Google, abordou uma série de questões impostas pela presença digital de instituições e atividades culturais. 

O especialista citou uma pesquisa do CGI (Comitê Gestor da Internet) que mostrou a baixa adesão de equipamentos culturais brasileiros às possibilidades da internet. Segundo o levantamento, apenas 5% realizam atividades educativas à distância quanto físicas nos próprios museus.

Plataformas de grandes corporações aproveitam a oportunidade para oferecer soluções digitais para museus, fazendo com que informações de interesse público fiquem à mercê de interesses privados e comerciais. Carrapatoso também levantou pontos relacionados ao valor de obras no ambiente digital, onde novos parâmetros de avaliação são criados.

Mesa: Ajude a sua cena

A mesa reuniu atores envolvidos com iniciativas variadas de apoio e arrecadação, algumas delas surgidas na pandemia. O papo incluiu Gabriel Brugnara do Salva Rave, projeto de arrecadação de dinheiro para trabalhadores da noite; Junior Carvalho, da Casa 1, centro de acolhimento de pessoas LGBTQIA+, Vini, da Fervo2k20, e Renata Almeida, do projeto Salve a Graxa BH. Rodrigo Bento, DJ e produtor do Festival Pilantragi, atuou como mediador.

Os participantes enfatizaram a pouca ajuda do poder público para pessoas e categorias mais atingidas pela pandemia. Foi o que motivou a formação da campanha Salve a Graxa BH, segundo Almeida: ‘Nos preocupamos com o pessoal da limpeza, segurança, contador, camarim, mas muito com o pessoal do palco pela situação de informalidade em que se encontravam”, disse.

Em outro momento, Junior Carvalho, da Casa 1, alertou sobre a aproximação oportunista de empresas e marcas. “Muita gente vem com discurso de salvador da comunidade LGBT, e se apropriam dessa narrativa. Tem muitas propostas de permuta. Te dou a cesta, mas preciso que você divulgue”, afirmou.

Marsha! Showcase + Bixarte MC

Para fechar o quarto dia com música e representatividade, a paraibana Bixarte MC se juntou à coletividade MARSHA! para um show de musicalidade e força poética. “Eu te peço respeito, não tô fazendo nada além de amar”, cantou Bixarte.

Assista à playlist com todas as atrações de hoje:

Não perca a programação deste sábado!

10h – Fervo TV: Seletores Caracol, Kaia e Prato do Dia

13h – Fervo TV: Dubversão 20 anos

14h – Mesa: O fervo que queremos

16h – Mesa: Virei uma empresa, e agora?

17h30 – Mesa: Fervo é negócio

19h –  Mesa: Explicando a cena

20h30 – Show: Badsista

Online e grátis em www.fervo.org e www.youtube.com/fervoconference